One-click buy. Ou, em português, compra com um clique. Taí um negócio que pode fazer a alegria tanto dos lojistas quanto dos consumidores no e-commerce.
O motivo o nome já diz. Ao visitar determinado site que tem esta ferramenta disponível, o cliente preenche os dados cadastrais (nome, endereço, número de cartão de crédito, etc e etc) apenas para concluir a primeira transação. Quando voltar outro dia, tudo está lá, salvo. A partir daí, basta um clique para ele comprar mais.
O resultado é um ganho de agilidade para o usuário, que ao encontrar uma boa oferta não precisa mais passar por um formulário extenso e/ou escolher opções de pagamento e de valores de frete antes de finalizar o pagamento. Tá sem o cartão de crédito por perto? Não tem problema. Esqueceu o CEP? Não se preocupe.
O varejista, consequentemente, também ganha com isso. As compras com só um clique ajudam a eliminar o maior ponto de atrito do e-commerce, que é o processo de checkout. Ao simplificá-lo, a empresa reduz o abandono de carrinhos e, automaticamente, melhora as taxas de conversão.
Muitos e-commerces viram vantagem e começaram a adotar a ferramenta no Brasil nos últimos anos. Mas quem inventou – e há muito tempo, diga-se – esta opção foi a Amazon. Aquela mesma, que virou a marca mais valiosa do mundo recentemente.
Senta que lá vem história
(Se você não quiser ler sobre a história do one-click e quer só saber das fraudes, tudo bem. É só correr até o próximo capítulo deste texto)
Quando a Amazon, à época uma livraria on-line, patenteou o método de negócios “1-Click” em 1999, o comércio eletrônico ainda, digamos, engatinhava até nos Estados Unidos.
Patenteou? Sim, isso mesmo. A Amazon logo percebeu que a opção de compra em um clique poderia gerar muito lucro, mas ser facilmente copiada. A Barnes and Noble, à época uma grande concorrente da empresa, foi inclusive acusada de oferecer uma opção semelhante – o caso foi parar na Justiça e as empresas se acertaram anos depois, mas os termos do acordo nunca foram divulgados.
“Poxa, uma ideia tão boa para o e-commerce e só a Amazon pode usar?” Muitos se perguntaram isso. Na Europa, por exemplo, onde essa história de “patente de método de negócios” é bem rara, a empresa fundada por Jeff Bezos até tentou, mas nunca teve este benefício concedido.
Além disso, a Amazon, muito boazinha, passou a licenciar a opção de compra com um clique nos Estados Unidos. Inclusive, uma das primeiras a pagarem para usar a tecnologia foi outra empresa que você deve conhecer: a Apple, que a partir do ano 2000 disponibilizou a ferramenta em serviços como iTunes, iPhoto e Apple Store.
Não dá para saber quanto a Amazon faturou com essa quase exclusividade da compra com um clique nos Estados Unidos – a patente só expirou em 2017. Fato é que pouco depois de adotar a ferramenta a empresa ampliou os negócios e criou sua famosa plataforma marketplace, contando com muitos dados de consumidores que já usavam o “1-Click” anteriormente.
“Quando escrevemos a história do comércio eletrônico, a patente “1-Click” permitiu à Amazon criar uma posição muito forte no mercado”, diz Polk Wagner, professor da Faculdade de Direito da Universidade da Pensilvânia e especialista em direito de patentes, citado neste interessante artigo desta mesma universidade sobre a história da compra com um clique – clique aqui para ler em inglês. “Mais importante, isso permitiu que a Amazon mostrasse aos clientes que havia uma boa razão para fornecer seus dados e a permissão para cobrá-los paulatinamente. Isso abriu outros caminhos para a Amazon no e-commerce. Esse é o verdadeiro legado da patente do 1-Click”, completou.
Thomas Jeitschko, professor da Universidade de Michigan e especialista em propriedade intelectual, seguiu a mesma linha: “Assim que a Amazon se tornou uma plataforma e um marketplace em vez de revender livros, foi importante às pessoas que fazem negócios saberem que a Amazon tinha esse grande banco de dados que poderia dar acesso a um grande número de clientes literalmente com um clique. Isso ajudou o crescimento da Amazon na esfera mais ampla do varejo, na qual outros tiveram dificuldade em recuperar o atraso ou ganhar uma posição”.
E agora ela: a fraude
Demorou doze parágrafos para falarmos, mas as compras com um clique, assim como qualquer outra transação on-line, não estão imunes aos fraudadores.
A começar pelas “fraudes amigas”. Nestes tempos em que o celular do pai ou da mãe virou um aliado na hora de acalmar as crianças, imagina o risco que o “comprar em um clique” pode oferecer? Na Austrália, por exemplo, um menino de 7 anos viu a versão rara de um boneco com o qual sonhava à venda na internet. Como os dados de cartão da mãe estavam salvos no site, ele foi lá e se deu o presente. O preço: R$ 28 mil reais – leia a história completa aqui.
Outra ameaça seria uma invasão de conta. Com o login e senha do cliente em mãos, o fraudador teria caminho fácil para realizar uma série de compras com o cartão já salvo. No entanto, ele teria que trocar o endereço de cadastro para conseguir a mercadoria, um comportamento que poderia ser considerado suspeito pelo antifraude.
Para driblar a proteção nestes casos, criminosos já chegaram a ter funcionários “infiltrados” em transportadoras para desviar as entregas. Em outro caso, nos Estados Unidos, hackers se aproveitaram de um plano de fidelidade de uma grande loja para ganhar vários pontos com compras de alto valor. Enquanto os produtos não chegavam à própria casa do dono do cartão (que certamente os devolveria), eles ficavam com créditos à disposição para mais transações ilegais.
Quem compra com um clique também pode se dar mal no caso de um eventual vazamento de dados de grandes empresas, o que tornaria a vida do fraudador mais fácil para fazer compras nos sites com os dados já armazenados. Neste cenário, vale ressaltar que se a loja tomou todas as precauções, o cartão da vítima estaria “tokenizado” – ou seja, o fraudador não visualizaria os dados completos do cartão, que ficariam armazenados no gateway usado pelo e-commerce nas transações.
Mais cartões bons do que identidades boas
Bom, então tudo isso quer dizer que é muito arriscado usar ou disponibilizar ferramentas como compra com um clique? Não necessariamente. Isso porque o fraudador tem melhores chances de usar um cartão que ele testou e já sabe que está válido e que tem limite. Nestes cenários em que os dados já estão salvos, ele não tem como saber se o cartão foi cancelado pelo proprietário, ou mesmo se está com o limite quase estourado, certo?
“Tem muito mais cartão bom do que identidades boas. O fraudador não pode se dar ao luxo de queimar uma identidade boa com um cartão que ele não conhece. Por exemplo, ele tenta comprar um smartphone, mas a compra é negada porque o cartão está sem limite. Aí ele tenta comprar outro, e já seriam duas tentativas de compra de um smartphone com cartões ligados à mesma pessoa. Isso seria suspeito”, explica Tom Canabarro, co-fundador da Konduto.
A moral da história é que a compra com um clique pode ser uma boa arma para otimizar o processo de pagamento dependendo das estratégias do seu e-commerce. O varejista, é claro, deverá adotar todos os parâmetros de segurança na operação, de preferência contando com uma ferramenta antifraude completa para calcular os riscos das transações.
A compra com um clique pode, de alguma forma, ser suscetível a fraudes? Sim, até que é verdade. Mas vai na fé: nada que um antifraude como a Konduto, que analisa mais de 2 mil variáveis para calcular o risco de fraude em um pagamento digital, não possa solucionar. Conta com a gente que tá tudo certo!