Os criminosos estão usando o novo coronavírus para praticar vários crimes (na semana passada inclusive listamos dez golpes que estão circulando na web e redes sociais que têm a pandemia como mote). Com isso, podemos concluir que as tentativas de fraude on-line estão aumentando, certo? Não. Errado.
Sim, leitores e leitoras. A partir da análise de milhões de pedidos que passaram pelos nossos sistemas no mês de março provenientes das mais de 4 mil lojas que utilizam a Konduto, descobrimos que as tentativas de fraude ao comércio eletrônico neste período de quarentena na verdade caíram mais de 10%. Uma boa notícia, né não?
Pois bem. Comparamos os pedidos realizados entre 1 e 14 de março – portanto antes de a crise da Covid-19 se agravar – aos que foram feitos no e-commerce já com as medidas de isolamento em vigor para milhões de brasileiros (de 15 a 28 de março).
*Veja o que encontramos:
Métrica | 1-14/3 | 15-28/3 | Variação |
Tentativas de fraude sobre total de pedidos | 3,58% | 3,21% | -10,34% |
Tentativas de fraude sobre volume financeiro | 6,68% | 6,00% | -10,20% |
Ticket médio dos pedidos fraudulentos | R$ 916,38 | R$ 829,93 | -9,43% |
* IMPORTANTE: O índice de tentativas de fraude leva em consideração todos os pagamentos de origem fraudulenta, e não necessariamente fraudes efetivas. A maioria destas tentativas é barrada por sistemas antifraude, meios de pagamento, bancos emissores ou pela própria loja virtual. Fonte: Dados Konduto.
Por que as tentativas de fraude caíram?
Em primeiro lugar, por causa de uma estratégia dos próprios criminosos cibernéticos, que neste momento não estão concentrando o foco em atacar e-commerces e realizar compras fraudulentas.
Os golpes que surgiram durante a pandemia, ao contrário, estão visando diretamente à população (assine streaming grátis, cadastre-se para receber auxílio do governo, você ganhou 7 GB de internet grátis, etc).
Com a aposta voltada para mensagens de phishing, links maliciosos, disseminação de fakes news, dentre outras práticas, os fraudadores estão reforçando o seu “estoque” de dados pessoais e de cartão de crédito (o que pode ser usado contra e-commerces mais cedo ou mais tarde) ou partindo direto para golpes financeiros e de extorsão contra as vítimas que caem nas armadilhas.
Em segundo lugar, as tentativas de fraude sofreram queda por causa da própria “transformação” do e-commerce durante a pandemia. Em alguns segmentos de baixo risco, as compras on-line cresceram significativamente neste período, e a quantidade de pedidos “ruins” acabou se diluindo em meio ao aumento de pedidos “bons”.
Ainda sob a ótica da mudança do comportamento de consumo do consumidor durante este período de pandemia, muitas categorias sofreram uma queda abrupta de vendas – como, por exemplo, turismo e ingressos para shows e eventos, que costumam ter altos índices de tentativa de fraude. Entretanto, a redução drástica da oferta destes serviços (cancelamento de campeonatos esportivos e shows, cancelamento de voos, etc) tende a puxar o índice para baixo.
Quais segmentos sofreram aumento de tentativas de fraude?
O parágrafo anterior foi a deixa para nos aprofundarmos um pouco mais em relação aos segmentos que mais receberam pedidos ilegítimos na crise da Covid-19. O top 5, pela ordem, tem eletrônicos, delivery, games on-line, turismo e eletrodomésticos.
Segmentos | 1-14 de março | 15-28 de março | Variação |
Eletrônicos | 8,69% | 12,59% | +45% |
Delivery | 4,74% | 7,77% | +64% |
Games on-line | 4,29% | 7,30% | +70% |
Turismo | 2,56% | 3,17% | +24% |
Eletrodomésticos | 1,96% | 3,10% | +58% |
Aplicativos de delivery e compras feitas in-game tiveram uma alta expressiva durante o período de quarentena, uma vez que as pessoas saem menos de casa e utilizam estes serviços por motivos óbvios – um estudo que fizemos apontou que estes segmentos mais do que dobraram o número de transações nas últimas semanas. No entanto, nestes dois casos, houve também um aumento considerável da atividade de criminosos cibernéticos.
Por outro lado, outras categorias menos “essenciais” durante a quarentena – como eletroeletrônicos e turismo – registraram um aumento no índice de tentativas de fraude basicamente em decorrência da queda da procura por parte de clientes legítimos. O cenário macroeconômico também fez com que a população “apertasse o cinto” na compra de alguns produtos ou repensasse muitas viagens, mas, por outro lado, os fraudadores seguem visando estes segmentos.
E quais tiveram queda nas tentativas de fraude?
Os cinco segmentos que mais apresentaram diminuição no número de compras fraudulentas são supermercados, farmácias, artigos esportivos, calçados e moda. Veja na tabela a seguir:
Segmentos | 1-14 de março | 15-28 de março | Variação |
Supermercados | 2,50% | 0,52% | -79% |
Farmácias | 2,66% | 1,71% | -36% |
Artigos esportivos | 1,60% | 1,09% | -32% |
Calçados | 2,97% | 2,11% | -29% |
Moda | 1,54% | 1,40% | -9% |
Os três primeiros colocados na lista estão entre os segmentos que mais aumentaram o volume de pedidos durante a quarentena. A orientação para não sair de casa fez muitos consumidores recorrerem a internet para comprar tanto itens básicos, como alimentos e remédios, quanto produtos como halteres, tapetes de ioga e até bicicletas ergométricas e esteiras para manterem a forma no lar. Nestes casos, o aumento expressivo de pedidos bons diluiu os fraudulentos.
Conclusão
Os dados e informações que apresentamos neste texto mostram como o senso comum pode trazer uma falsa impressão de que tem muito mais criminosos atacando os comércios eletrônicos neste momento de crise. De fato, há dezenas de novos golpes correndo na praça envolvendo a Covid-19, mas, pelo menos por enquanto, eles não provocaram o aumento de compras fraudulentas.
Um fenômeno parecido ocorre na Black Friday. A gente tende a achar que as fraudes aumentam no período – vide o noticiário repleto de alertas sobre lojas de fachada na web, anúncios falsos nas redes sociais, descontos com a metade do dobro do preço, etc. Mas, na frieza dos números, as tentativas de fraude ao comércio eletrônico na Black 2019 ficaram abaixo da média anual.
Lembre-se de que a fraude ao e-commerce é uma atividade constante. Como mostrou nosso Raio-X da Fraude 2020, os criminosos continuam atuando principalmente em dias úteis e em horário comercial. Eles agem de forma escalonada e organizada e “se disfarçam” em meio aos clientes legítimos, sem aumentar ou diminuir bruscamente a quantidade de golpes em épocas sazonais ou de promoções. Leve isso em consideração para uma análise de risco eficiente de sua loja!