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Os desafios de trabalhar com Antifraude em Plataformas de Pagamentos

Por 4 de novembro de 2021 novembro 16th, 2021 Nenhum comentário
Os desafios de trabalhar com antifraude em plataformas de pagamentos (entrevista com Daniel Kabata)

Aqui você vai saber: 

Trabalhar com antifraude é sempre desafiador, mas como será que é atuar no combate às fraudes dentro de uma plataforma de pagamento? 

Saber como lidar com lojas diferentes, métodos de pagamentos diferentes, tipo de fraudes diferentes, tudo ao mesmo tempo é um desafio gigante e constante. Por isso, a Konduto resolveu trazer um pouco do papo que rolou na Fraud Session de outubro/2021 aqui para o blog.

Esse texto é para você que: 

  • Quer saber como trabalhar com antifraude;
  • Deseja entender como é o dia a dia em uma plataforma de pagamentos;
  • Tem anseio de se aprofundar mais sobre o assunto. 

Daniel Kabata, uma das referências no assunto

A primeira coisa que você precisa entender é que trabalhar com antifraude pode ser bem diferente dependendo de onde você atua. Ainda que haja um raciocínio e muitos pontos em comum, as diferenças precisam de atenção para quem quer se especializar. Para explicar melhor quais são as especificidades de trabalhar com antifraude em uma plataforma de pagamento, conversei com o Daniel Kabata, atualmente Líder de Riscos no Pagar.me.

Conheça um pouco mais sobre ele:

  • Daniel é pós-graduando em gerenciamento de risco pela Saint Paul. 
  • Ao longo de sua carreira, atuou em projetos interdisciplinares dos mais variados escopos, passando pela indústria, mercado financeiro e mercado de adquirência. 
  • Há três anos se dedica à área de risco e prevenção à fraude no Pagar.me. 
  • Ele acredita no poder da tomada de decisões embasadas em dados com o intuito de transformar a área de risco em diferencial competitivo.

Viu como ele é fera no assunto, né? Então vamos para o bate-papo que, certamente, vai te agregar muito!

Lembrete: as opiniões expressas aqui representam o ponto de vista e vivências pessoais do profissional – e não necessariamente o da empresa onde atua ou atuou anteriormente.  

Como é combater as fraudes dentro de uma Plataforma de Pagamentos?

Daniel Kabata: Combater fraudes dentro de uma empresa de meios de pagamentos acaba sendo bastante complexo/desafiador, mas também muito apaixonante. Os fraudadores são muito criativos e a todo momento estão pensando em novas formas de tentar burlar as soluções de segurança/monitoramentos que construímos. Então na prática o nosso dia a dia é bem dinâmico, dado que o mundo de fraude também é. A gente trabalha com dois grandes focos: olhando para o passado e aprendendo com as fraudes que aconteceram e olhando para o futuro, pensando em como preparar nossas soluções para mitigar possíveis fraudes futuras. Ou seja, uma coisa que não existe no nosso dia a dia é tédio.

O que muda na rotina em comparação com outros setores como e-commerce e marketplace?

Daniel Kabata: Nosso dia a dia é um pouco diferente do dia a dia de um e-commerce, talvez até se pareça mais com o do marketplace – guardadas as devidas proporções.

Até onde eu vejo, a grande preocupação de uma loja virtual é enviar a mercadoria e posteriormente receber um chargeback. Então grande parte do esforço do e-commerce está focado no transacional. Como por exemplo: validação de dados, entender se existe algum tipo de desvio no comportamento do cliente, predominância de fraude por região, tomar mais cuidado com produtos de preços elevados, etc.

Já o marketplace além de ter a preocupação com o transacional, possui demais preocupações, como conhecer quem são os sellers que utilizam a plataforma, como eles a utilizam, entender se não estão utilizando a plataforma para cometer algum tipo de atividade ilícita, conhecer a origem dos produtos, etc. Assim, o foco acaba tendo dois alvos: transacional e credencial.

Nós, do mercado de adquirência, temos como missão ajudar a mitigar os possíveis riscos de todos os nossos clientes (e-commerces e marketplaces), mas também temos a missão de criar soluções para que nós mesmos não sejamos fraudados. Então, eu entendo que cuidar de muitos clientes com diferentes modelos de negócio, faturamentos, peculiaridades seja uma das principais diferenças entre a rotina do marketplace e da subadquirente. 

Qual é o principal desafio do seu time de prevenção a fraude?

Daniel Kabata: Hoje nosso grande desafio é conseguir criar modelos automáticos, escaláveis, com precisão e recall altos, que identifiquem um fraudador o mais cedo possível, seja no momento de cadastro, através do KYC (know your customer) ou já nas primeiras transações realizadas a fim de tentar diminuir ao máximo os efeitos colaterais das fraudes.

Este é um tema em que estamos muito empenhados no ano, e aqui gostaria de agradecer muito o time por todo o empenho para conseguirmos resultados bem expressivos, mas que ainda vamos ter uma dedicação maior nos próximos anos dado que, infelizmente, o Brasil continua aparecendo como um dos principais países onde a fraude no comércio eletrônico é mais praticada.

Qual é a chave do sucesso na prevenção à fraude em uma plataforma de pagamentos?

Daniel Kabata: Não existe uma chave única de sucesso no mundo de prevenção às fraudes. Acredito que o sucesso tenha muito a ver com a maturidade/momento da equipe e os recursos de tecnologia disponíveis. Inicialmente, um caminho seria começar com o básico, como por exemplo fazer um bom processo de KYC, contar com uma boa solução de antifraudes (seja interna ou externa), entender o comportamento dos clientes e criar heurísticas de monitoramentos, etc.

Em um segundo momento, uma coisa que eu acredito profundamente é tentar usar a área de riscos como diferencial competitivo. Ou seja, é deixar de ser a área que só diz não e que bloqueia novas iniciativas de negócio para se transformar na área que entende a necessidade e faz a sua parte para que a iniciativa saia do papel.

A ideia por trás disso é garantir que a área de riscos conheça muito dos produtos/negócio da empresa, pois só assim as soluções de risco vão de fato gerar valor e conseguir balancear o risco X retorno. A ideia é realmente focar em tomar risco de maneira inteligente, usando muita tecnologia e análise de dados para embasar decisões de negócios, inclusive. 

Como acompanhar tantas lojas e públicos diferentes?

Daniel Kabata: Acompanhar uma a uma é impossível. Nós possuímos dezenas de milhares de clientes e precisaríamos de um time enorme caso nossa estratégia fosse de olhar individualmente cada cliente. Isso seria zero escalável. O que a gente faz então? Automatiza.

Na prática isso significa que criamos modelos de machine learning que aí sim acompanham diariamente todos os clientes de cada um dos segmentos e acabam facilitando nossa vida ao alertar apenas os casos que necessitam de um acompanhamento humano.

Essa estratégia, sim, é escalável e permite concentrar esforços e atenção apenas nos desvios.  

Trabalhar com antifraude interno é melhor que externo? Existe uma regra geral?

Daniel Kabata: Não existe uma regra geral sobre antifraude interno e externo, ambos tem suas particularidades. O que eu posso falar é que antifraude é um tema bastante complexo e sensível, uma vez que afeta diretamente a conversão e os chargebacks dos clientes. Então, antes de decidir se a solução será interna ou externa tem que ser levado em conta que a construção e manutenção deles é um processo bastante longo, que depende de um número bem grande de dados, e que demanda de uma área de tecnologia dedicada exclusivamente para ele. 

Sobre vantagens/desvantagens o antifraude externo, por trabalhar com diferentes empresas, possui acesso a uma fonte gigantesca de dados (o que é fundamental para bons modelos de machine learning) e muitas vezes conseguem ofertar produtos como a garantia de chargeback.

Por sua vez, o antifraude interno por ser dedicado e parametrizado para um modelo de negócio específico pode acabar tendo uma performance melhor do que um modelo mais generalista.

Como você planeja a Black Friday do lado da plataforma de pagamentos?

Daniel Kabata: Black Friday é a nossa grande festa, né? É a data mais importante do ano e é o momento pelo qual a gente trabalha o ano todo. Ao mesmo tempo, a gente sabe que é um período que chama muito atenção de fraudadores, já que eles tentam se misturar ao grande volume transacionado e tentam passar despercebidos. 

Mas já sabendo disso de edições anteriores, a gente vem trabalhando em melhorar nossos modelos e alertas há algum tempo, criando redundância para todos os sistemas críticos. Além disso, especificamente em todo final de semana teremos escalas de plantão 24 horas por dia para acompanhar todas as suspeitas. Então nossa ideia é que nossos clientes tenham uma experiência incrível e que a gente consiga mitigar grande parte das fraudes.  

Uma dica para quem quer entrar no mundo dos pagamentos e fraude.

Daniel Kabata: A dica que eu tenho para quem quer entrar no mundo da fraude e meio de pagamento é: queira aprender muito e estar atento às novidades. Essa é uma área extremamente dinâmica, em que tecnologias novas aparecem o tempo todo, novos produtos são lançados e as fraudes acabam acompanhando todas essas evoluções e se reinventando.

A fraude de pedir dinheiro pelo telefone fingindo um sequestro foi atualizada para o Whatsapp, por exemplo. 

Se formos falar de hard skills, por ser um tema bastante analítico, acredito que conhecimentos em programação (Python, R, SQL), análise de dados e machine learning acabam sendo diferenciais.

O que o futuro reserva para o setor?

Daniel Kabata: A pandemia acabou antecipando fortemente a tendência de digitalização de produtos e serviços. A comodidade de conseguir ter cada vez mais um número maior de itens de qualidade a distância de um toque, dificilmente será revertida, dado que já faz parte da vida das pessoas. 

Pelo contrário, eu entendo que no futuro cada vez mais as empresas vão necessitar digitalizar os seus serviços e eventualmente vão acabar enfrentando realidades de fraudes que antes não tinham conhecimento.

Por estar gradualmente mais expostas a possíveis fraudes, com grande potencial de riscos de imagem e financeiros, compreendo que a área de riscos vai se tornar ainda mais essencial para o negócio e vai passar a ter aumento de relevância dentro das empresas, deixando de ser uma área de apoio mas se tornando progressivamente mais estratégica.

PLUS: dicas finais e conteúdos extras

Depois dessa aula do Daniel Kabata, a cabeça fica assim ? explodindo de ideias, não é mesmo? 

Se você quer se aprofundar mais sobre o assunto, listei 3 conteúdos essenciais:

  1. No blog da Pagar.me tem conteúdos muito bons sobre plataformas de pagamento. A dica é começar pelo texto “o que analisar para escolher a plataforma de pagamento online ideal?” e ir se aprofundando conforme seu interesse.  
  2. As Fraud Sessions são webinars gratuitos e online que a Konduto conduz desde 2020. Clicando aqui você acessa uma lista completa com todos os conteúdos. É praticamente um curso de antifraude prontinho para você. Aproveite!
  3. Saber o perfil da fraude no Brasil é fundamental para combater os golpes online. Por isso indico o levantamento mais recente e completo sobre o assunto, o Censo da Fraude 2021. Mas atenção, para estar sempre atualizado, continue acompanhando o blog que a gente divulga por aqui quando surge algum novo estudo sobre antifraude. 

Por hoje, é isso. Se você gostou, compartilhe com os colegas e deixe seu comentário abaixo. Em caso de dúvidas, conte sempre comigo também.

Stefs Masotti

Autor Stefs Masotti

Olá, eu sou Stefs! Com formação em Jornalismo e atuação em Publicidade, minha especialidade é colocar confete nos conteúdos que produzo. Trabalho com marketing digital desde os tempos do Orkut.com e sobrevivi a todas as redes sociais que surgiram desde 2009 (rs).

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