Há muito tempo mencionamos aqui no Blog da Konduto que clonagem de cartão de crédito e tentativa de compras fraudulentas na internet são crimes de altíssima recorrência no Brasil, apesar de ser um tema pouquíssimo debatido por aí. Esta semana, porém, o jornal O Globo publicou uma reportagem com base em um estudo da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) que nos ajuda a ter uma noção do real impacto do cartão clonado de tudo isso na nossa realidade.
Clonagem de cartão de crédito é a fraude mais comum no país, é a manchete da reportagem. A notícia cita que, de acordo com o relatório elaborado por essas duas instituições, cerca de 8,9 milhões de brasileiros sofreram algum tipo de golpe num intervalo de 12 meses, entre abril de 2018 e março de 2019. E, deste número, a fraude mais comum foi a clonagem de cartão de crédito: 41%, ou 3,65 milhões de pessoas – inclusive eu, como eu já contei neste artigo de mea-culpa!
É muito cartão clonado
Ok, 3,65 milhões de pessoas é muita coisa – cerca de 1,8% da população brasileira, segundo o IBGE. Mas, segundo uma pesquisa do próprio SPC, das 202 milhões de pessoas em nosso País, “apenas” 52 milhões utilizam o cartão de crédito como meio de pagamento.
Se pensarmos assim, são 3,65 milhões de pessoas vítimas de clonagem de cartão em um universo de 52 milhões. Sabe o que isso representa? 7% dos portadores tiveram o cartão clonado em um período de 12 meses. Ou 1 a cada 14 pessoas!
Se você estiver lendo este texto no escritório, faça o teste e pergunte quantas pessoas ao seu redor sofreram este golpe nos últimos 12 meses.
Será que o índice é fiel e condiz com a reportagem? Eu aposto que sim – ah, e se você estiver lendo este texto no escritório, aproveite e encaminhe-o para todo mundo e intime convide o pessoal para assinar a nossa newsletter, né?
Onde o cartão clonado foi usado?
Fácil, né? Nem é preciso pensar muito para dizer que foi na internet: quase metade das pessoas (48%) alegou que o cartão clonado foi utilizado em transações não presentes, sejam elas em lojas virtuais ou em serviços pagos on-line.
Ah, então é isso: o cartão foi fraudado no e-commerce e a culpa é da loja que clonou o cartão!
Não. Não mesmo. Definitivamente não. Mil vezes não!
O e-commerce que recebeu essa compra de origem fraudulenta é tão vítima quanto nós, pessoas físicas, que sofreram a clonagem do plástico. Os criminosos obtiveram os dados do cartão de alguma forma que provavelmente não saberemos (vazamentos de informações, maquininhas com chupa-cabra ou até mesmo negligência do portador do cartão!) e, em seguida, realizaram uma transação ilegítima na internet.
É que é muito inseguro pagar on-line com cartão, né?
Pelo contrário – e essa é outra baboseira muito falada por aí que precisa ser desmentida. E a própria Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) tratou de esclarecer isso na reportagem produzida por O Globo.
Consultada, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) afirmou que o sistema de pagamento eletrônico do país é um dos “mais evoluídos do mundo, principalmente no âmbito da segurança”. A entidade acrescenta que as empresas do setor investem em tecnologias que monitoram em tempo real os comportamentos de uso dos cartões e detectam possíveis compras indevidas. A Abecs ainda mantém um comitê dedicado ao aprimoramento da segurança.
E a gente assina embaixo.
O estudo de CNDL e SPC Brasil e também a reportagem publicada por O Globo nos faz relembrar uma frase histórica, que eu uso muito no meu dia a dia e que foi citada pelo Rei Salomão no bíblico Eclesiastes, por Eça de Queiroz em A cidade e as serras e por Caetano Veloso em A luz de Tieta.
Ops, não, não essa. Falha minha. A frase na verdade é essa:
Nada novo sob o sol
Pois é. Ter o cartão clonado não é novidade para ninguém, e há anos já comentamos aqui que as fraudes cibernéticas em pagamentos digitais estão entre os crimes mais difundidos no Brasil. Entretanto, é muito importante este movimento de divulgação de números, compartilhamento de informações, pesquisas, reportagens e debates sobre o assunto.
É preciso falar mais sobre isso. É preciso fazer mais estudos, publicar mais notícias, investigar mais. Em um cenário com tanta tecnologia disponível e super eficiente para ajudar lojistas e intermediadores de pagamento a evitar chargebacks, a troca de informações continua sendo a arma mais importante no combate à fraude.